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A febre dos Broches / Thiago Fonseca

Assim que cheguei no aeroporto de Confins, para participar de uma edição da Olimpíada do Conhecimento, deparei com uma situação estranha. Uma porção de competidores trocavam e carregavam um colosso de broches. Cada um tinha sua particularidade: uns tinham formato chocho, outros eram exuberantes, meia dúzia brilhava e enchia os olhos.

O que mais me chamara atenção era o fenômeno em torno daquele objeto. Em uma mesa do restaurante, horas depois da chegada, dois adolescentes disputavam um exemplar entre tapas e pontapés. A ação foi impedida por um dos diretores, que teve que separar o forfé e punir os competidores. Quanta bobagem por conta de um troço de metal que você espeta na roupa e sai por ai carregando! - Pensei.

Uma hora se passou e um dos responsáveis pela competição me entregou um pacote com alguns exemplares do tal objeto. Agradeci. Desdenhei e deixei de lado. Eu lá queria aquilo? Coisa baranga e antiquada. Quem usa broche em pleno 2016? Quanto mais o tempo passava, mas gente cheia de broche chegava. Parecia uma infestação, doença ou mal do século. Todos me perguntaram onde estavam os meus ou me olhavam com ar de desprezo ao ver que não carregava nenhum.

Tentei não me render às graças do objeto, mas foi inevitável. Parecia ser de outro mundo sem ostentar um broche. Aos poucos pude perceber que aquele objeto representava o afeto e o intercâmbio de amizades. A tal da network, para ser mais chique. A ideia do troço era que cada competidor trocasse seus com as outras pessoas. Ao entrar na competição, cada participante ganhava uns 10 exemplares do mesmo broche e o interessante é que ao final eles fossem todos diferentes.

Rômulo me explicou que a troca incentivava as relações interpessoais, mas aquilo acabara virando uma competição. Quem tivesse mais exemplares e os mais bonitos eram os mais populares. Questão de honra, sabe? Logo entrei na roda e fui galgar meus novos exemplares. Catei meu saquinho que havia deixado de lado e embarquei na brincadeira. Andei entre oficinas, salas de palestra, restaurantes e corredores. Não podia ver alguém que logo já puxava assunto para iniciar a troca.

 

A coisa era viciante. Depois de alguns dias consegui exemplares com bandeiras de vários estados, uns de metal, outros de plásticos e até aqueles de acrílico. Luxo, né?! E aquelas preciosidades precisavam ser ostentadas. A corda do crachá fora a escolhida. Quase morri no dia em que descobri que não caberia mais nenhum nela... Corri e procurei sem cessar um exemplar raro da Olimpíada da edição seguinte. Custei, mas achei. Aquilo era um prêmio!

 

Aquilo era caminho sem volta. Debochava da atitude dos competidores, e acabei me tornando um deles. Hoje, guardo todos e me lembro de cada história e prometi que nunca mais ia desdenhar de nada. Estão lá, dependurados na parede do quarto como se fossem um troféu. Realmente são. Quando os vejo, lembro da memória afetiva e dos milhares de pessoas que conheci. O valor dos broches não estava em sua beleza, e sim, no afeto e na história de quem um dia pertencera.

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