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 Um tijolo na mesa de jantar / Carolina Manoel

Me lembro de quando eu era criança, em meados dos anos 1990. Eu e minha família estávamos sentados à mesa para almoçar. Lembro de estarmos empolgados, pois meu pai tinha comprado um celular, que hoje eu chamaria de telefone sem fio, mas, na época, era o que tinha de mais moderno nesse segmento.

O celular era tão pesado quanto um tijolo. Temos o aparelho até hoje. Eu poderia tentar me defender de um invasor que entrasse em minha casa, jogando o telefone em direção ao maldito; se não matasse, machucaria feio. Ou quem sabe poderia usá-lo como álter de academia, para emagrecer.

Lembrei que a porta da sala da minha casa está precisando de peso para não bater e estilhaçar os vidros, são tantas as utilidades para esse simpático tijolã... Por isso tenho muita pena de tentar vendê-lo para um museu, se eu saísse com ele por aí, causaria mais comoção que um bebê ou um cachorro, juntos.

Imagino o espanto que as pessoas terão ao ver que no aparelho só tem o teclado e uma tela grande o suficiente para ver os números digitados. Além de números e letras, ele tem oito teclas, cada uma com três letras, das quais eu reconheço a funcionalidade de apenas três teclas, a de atender e iniciar uma ligação, a de aumentar o volume e a de finalizar a ligação.

 

Um celular desse tamanho hoje em dia pode ser considerado um transtorno para alguns, mas naquela época serviu para entreter uma família.

Me lembro que a primeira ligação feita com o tijolão foi para a casa da minha avó materna. Todos à mesa falaram com ela e quando chegou a minha vez eu estava muito nervosa, por isso me atrapalhei toda e acabei finalizando a chamada e junto com ela foi o clima de descontração.

Os objetos carregam na energia das pessoas e na minha casa tem muitos objetos que me lembram a infância ou pessoas da minha família, sou muito ligada a isso.

Ao procurar o tijolão, achei outras relíquias, objetos  guardados há décadas  na minha família que têm grande valor assertivo para mim e acredito que assim será com as próximas gerações da família Silva. Quando encontrarem um objeto que já foi meu, vão lembrar de mim,  mas o que eu creio que fica guardado para sempre no coração são os momentos vividos, as presenças compartilhadas e o privilégio que tivemos em presenciar aquela história e em ter convivido com aquelas pessoas.

Nunca dê de presente um objeto como objetivo de tentar suprir sua falta, porque eles se desgastam com o tempo. Mas aquele afago ao recebê-lo jamais será esquecido.

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