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O TRANSPORTADOR DA LUZ / Aidan Rocha

Ingratos! Séculos de serviços prestados e cadê o reconhecimento? Fui renegado. Nem mesmo a galerinha descolada, que diz adorar itens vintage, valoriza a minha elegância clássica. Mas quando fazem piadinha com o amigo cabeça quente, é o meu nome que invocam. Dos trabalhos escolares infantis, ao improviso para marcação de tempo em um samba, é a mim que recorrem. Mesmo com tanta ingratidão e destrato, jamais me vitimizei. Sigo firme em atividade.    

Isso que incomoda meus concorrentes. Principalmente esse moderninho cheio de gases que apareceu querendo me substituir. Jamais será! Um sujeito que não dispõe a se arriscar aproximando-se do perigo. E aí sou eu quem me lanço feito um kamikaze até ser completamente consumido. Ao contrário deste egoísta e esnobe, eu trabalho em equipe. E não deixo para o planeta um peso de séculos para me decompor. Acusado no passado por ambientalistas, hoje sou autossuficiente, independente. E tem recalcados que ainda me acusam de antiquado. Paciência.  

 

Sequer sabem o que passa pela minha cabeça, confundem com o que traz quem me guarda. Respeitem a minha história! São mais de três séculos de serviços prestados. Evoluí para servir melhor. Simplifiquei e traduzi fórmulas e reações químicas em utilidade objetiva para as pessoas. Mudei meu penteado. Aderi a novas formas, fórmulas e componentes simplesmente para agradar as pessoas. Me alonguei em alguns casos, preocupado com a segurança.

Mesmo assim, não me compreendem, não entendem como funciono. Talvez por isso, me difamam. Tentam me associar a maus elementos como o cigarro e outros. Simplesmente não os discrimino, atendo a todos. Mas abnegado como sou, sigo servindo, sem retaliações.  

 

E não adianta dizer que ninguém quer mais minha companhia, que não me levam em passeios, que não me querem em suas casas. Eu ainda resisto. Não deixo as pessoas sem meus serviços sem um aviso prévio a tempo de se reabastecerem. Não escondo segredos dentro de mim.

E é assim, ainda dizem que esquento demais a cabeça, por isso morro queimado. A verdade é só uma: eu sou o transportador da luz!

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