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DOCE ILUSÃO / Bárbara Souza

Nós éramos inseparáveis, grudadas durante todo o tempo. Quem via nem acreditava “como pode uma menina dessas fazer isso?”, muitos questionavam. Mas era assim, simples. Como unha e dedão, luva e mão.

 

Com apenas 14, me encantou. O vermelho que a embalava quando a vi pela primeira vez combinava perfeitamente com o que ela sugeria. Potência, personalidade e força.  Um sorriso do lado direito, rastros da vida que marcavam o seu lado esquerdo, ela era simplesmente incrível!

 

Para os meus amigos, eu estava errada, enganada, iludida. Ela era a minha primeira e as experiências, inexistentes. É isso mesmo, você não leu errado: ela foi a minha primeira. Ouvi muitas críticas por isso. “Essa não presta, você vai ficar decepcionada”. Mas, naquela época, tão especial, ela era perfeita, insubstituível.

 

O tempo foi passando, juntas andamos por muitos lugares. Juntas conquistamos e perdemos muitas coisas. Lutamos pela igualdade três dias por semana, melhoramos habilidades, subimos o nível. Com ela, encontrei um novo mundo, ao qual me adaptei e logo me senti parte.

 

E sabe? Foram inúmeros momentos de gozo e muita satisfação. E, a cada dia que passava, eu só conseguia pensar em como todos estavam errados ao seu respeito. Sem a necessidade de algum retorno, falava sobre ela para todos, porque todos precisavam saber que ela não era aquilo que eles achavam. Ela era mais, muito mais!

 

Acho que eu estava apaixonada, é isso. Mas quem podia me culpar? Tão bonita, lisinha e forte, eu não podia pedir diferente, não é mesmo? O tempo foi passando, assim como os seus sinais. Algumas de suas mudanças eram perceptíveis, outras só quando estávamos unidas eu podia sentir.

 

É difícil afirmar, pois não sei em qual momento ela parou de me atender. Sabe quando você só perde o interesse? Não sei se era a dor que ela me provocava ou os meus movimentos que já não eram os mesmos. Não sei se era o meu desinteresse, ou as suas falhas. Não sei se era vontade de mudança, ou necessidade.

 

Nossos momentos juntas já não eram os mesmos, meus olhos viajavam por outras, minhas vontades já não eram com ela.  Eu não sabia o que fazer! Não queria dar o braço a torcer, não queria ter que ouvir a velha e comum frase “eu te avisei” saindo da boca dos meus amigos, mas não dava mais.

 

Era vinte e dois de julho quando tomei a decisão de acabar de vez com o que estava acontecendo. A olhei com pesar, peguei as chaves, sai de casa. Naquele dia, as coisas iam mudar. Com determinação, busquei a única pessoa que poderia me ajudar: o meu mestre.

 

Juntos viajamos em busca do novo, de algo que fizesse meus olhos brilharem. Eu ainda não sabia qual era, mas de uma coisa eu tinha certeza: durante um bom tempo, eu queria passar longe das linhas das luvas Everlast, que mesmo que indiquem um amor eterno, comprovaram que, no esporte e no amor, tudo pode mudar.

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