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NÃO É O MOISÉS Moisés! / Bruna Rezende 

Minha prima me deu um presente especial, enquanto eu estava internada no hospital, em plena Copa do Mundo do Brasil. Que bacana, né? Geral curtindo e eu lá, prostrada num leito de hospital, depois de passar por uma cirurgia.

 

Mas nada de ‘pieguismo’ e tristeza! Tô viva! Afinal, vaso ruim não quebra!

Mas enfim. Abri o embrulho e me segurei para abafar o grito de felicidade: ganhei uma action figure (ou, em bom português, uma miniatura) de Gandalf, meu personagem favorito de ‘O Senhor dos Anéis’.

 

Vestido de branco, com barbas e cabelos longos, uma espada e seu tradicional cajado com muitos detalhes. Junto com ele, um mapa da Terra-Média.

 

Aquela atitude da minha prima de (então) 12 anos de idade me comoveu. Ela sempre foi muito próxima a mim e nos consideramos irmãs de coração. Aff, já disse que não quero nada emotivo demais! Bem, vamos continuar.

Assim que fui liberada do hospital, com uma maldita tipoia que me impedia de mover demais o braço direito, fui para casa com meu companheiro.

 

Parecia uma criança com uma boneca nova, levando meu mimo como um troféu para todos os lados. Também levava o mapa junto comigo.

 

Engraçado, falando assim parece que eu passeava com o Gandalf o tempo todo. Indo pro supermercado, pro estádio, pro shopping.

 

Mas o máximo que eu fiz, durante boa parte da recuperação, foi passear do meu quarto pra sala, da sala pro banheiro, do banheiro pra sala de jantar, de lá para a cozinha e por aí vai. Aliás, o único passeio que eu vi mesmo naquela época foi o da Alemanha em cima do Brasil.

Situando você no contexto, caro leitor, eis a história que vim contar. Não garanto que ela é verdadeira, apesar disso, acho que você gostará dela.

 

Recebi uma visita de uma amiga, que tem zero conhecimento de cultura nerd. Zero, zero mesmo! Lá estava eu na minha cama quando essa amiga chegou.

 

Fomos conversando, enquanto ela observava as coisinhas que coloquei na parte de cima da mesa do meu notebook.

 

Eu, católica, tenho uma imagem do meu padroeiro São Judas Tadeu, o santo das causas impossíveis (deve ser por isso que nasci no dia dele, porque sou impossível), uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, uma de Nossa Senhora Aparecida e uma pequena imagem de um Anjo da Guarda, nenhum específico. No meio deles, como um intruso, minha miniatura de Gandalf, o Branco.

Minha amiga, igualmente católica, disse: - Nossa, que lindos esses santinhos! São Judas Tadeu, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida e... que santo é esse aqui?

Me segurei para não rir.

 

Tadinha, ela não sabia que ele não era um santo.

Mas aproveitei para me divertir com a situação: - Uai, me diga você, que santo é esse?

Ela o observou cuidadosamente e foi dando seus palpites:

- Hum... É São Pedro?

- Não! – respondi, rindo.

- Então é São Paulo!

- Também não!

- Vixe... Já sei! É São Joaquim! Certeza! É o nome do seu avô, inclusive.

- Não, também não é.

- Putz... Então deve ser Moisés!

Aí eu não aguentei e gargalhei com a ingenuidade da minha amiga. Ela fez cara de espanto, sem entender o porquê da minha reação exagerada.

- É Moisés, sim! Olha ele com o cajado, guiando o povo judeu pelo deserto e abrindo o Mar Vermelho!

Essas últimas frases me proporcionaram mais risadas. Tantas que (eu) senti até dor.

- Você é muito ingênua, amiga! Não é santo nenhum. É a miniatura do Gandalf, o mago de ‘O Senhor dos Anéis’!

Ela ficou surpresa por uns minutos. Depois, fez uma birrinha:

- Aff! Não sei como ainda caio nessas coisas suas!

- Querida, só digo uma coisa: você não vai passar ilesa das minhas brincadeiras!

Depois que minha amiga foi embora, fui fazer uma maratona dos filmes da trilogia. Claro, Gandalf estava comigo.

Com as frases da amiga na cabeça, percebi que ela não estava de todo errada.

Ele não guiou o povo judeu pelo deserto. Muito menos abriu o Mar Vermelho.

Porém, guiou os hobbits pela Terra-Média para destruir o Um Anel, em Mordor.

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