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A MOCHILA E O ESTUDANTE / Felipe Figueiredo

Desconheço um acessório que melhor caracterize um estudante do que a mochila. Talvez você considere o fichário e o uniforme algo mais condizente a essa caracterização, mas não para mim. O fichário precisa ser abraçado e, francamente, me parece um acessório demasiadamente coxinha. O uniforme, depois que você sai da escola, vira pijama, roupa para usar quando for pintar a casa ou roupa para ir à padaria.

Mas a mochila possui algo a mais. Talvez sua maior qualidade seja o fato de, na maioria das vezes, possuir aquele item que virá a salvar o dia: seja uma moedinha para inteirar a passagem do ônibus, uma caneta em dia de prova, um carregador para celular, uma camisinha... Sempre que uma adversidade aparecer em seu caminho lembre-se: a resposta pode estar na sua mochila.

Lembro-me perfeitamente de todas as mochilas que já possuí, desde aquelas de rodinhas que eu usava quando criança, aquelas cheias de acessórios que eu usava durante a adolescência, até essas mais sóbrias que eu utilizo na faculdade. Mas, mais do que minhas próprias mochilas, lembro de outras inúmeras mochilas que me marcaram durante o período escolar.

A maior parte da minha vida estudei em escolas técnicas. Se você jamais estudou em uma escola técnica, é provável que não saiba, mas elas têm, em média, uns dez homens para cada rapaz. Avistar um espécime feminino era tão raro quanto encontrar petróleo no quintal da sua casa. Ok, talvez eu tenha aumentado um pouco, mas a proporção era de uns oito homens para cada mulher.

Fato é que, ainda que raras, as mochilas femininas costumavam ser muito mais limpas e bonitas que as masculinas. Enquanto os rapazes usavam suas mochilas para marcar o perímetro do gol, limpar as próprias mãos, ou como tela para suas artes à base de corretivo, as meninas tinham maior assepsia com suas mochilas.

Mas havia algo que homens e mulheres faziam igual: adentrar a sala de aula, colocar sua mochila sobre uma das cadeiras disponíveis e deixar o recinto. Eu não conheço um único ser vivo que não tenha entrado em uma sala de aula e se deparado com um número incompatível de alunos em relação à quantidade de mochilas.

Além disso, acredito que você também tenha tido esse diálogo uma vez na sua vida:

– Com licença, esse lugar é meu.

– Como assim? Não tinha ninguém aqui.

– Essa mochila é minha. – Diz o infeliz se referindo ao objeto apoiado na cadeira que você estava utilizando.

Olha, eu juro que nunca vi uma mochila apresentar uma procuração e dizer que está representando alguém, mas, para evitar o conflito, eu mudava de lugar. É incrível como esse acessório além de servir para carregar objetos, também designa papéis tão diversos: traves, guardanapo e até função representativa.

Confesso que nunca tive muito carinho pelas minhas mochilas, sempre as deixei jogadas em qualquer canto. Sempre ficaram caquéticas na minha mão e, por vezes, até precisava ser lembrado de levá-la a escola. Mas a verdade é que agora que eu sei que esse acessório deixará de estar comigo com tanta frequência ao fim deste semestre, sinto-me como se algo de valor estivesse sendo arrancado de mim.

Grande parte das minhas amizades, minhas relações amorosas e minhas boas histórias foram adquiridas durante a escola e faculdade. Neste semestre, irei concluir de vez um ciclo que ficou marcado por essa fiel indumentária. Sei que meus ombros agradecerão o descanso, mas é inegável que o fim desse relacionamento está sendo mais amargo e nostálgico do que eu poderia imaginar.

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