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O PRIMEIRO VÍCIO DE UMA GAROTA DE OITO ANOS / Bruna Barbosa

Se tem uma coisa que eu amo é cinema. Todo o mundo cinematográfico, desde os filmes até o glamour do tapete vermelho. Mais que um hobby, é uma paixão. Não consigo pensar em um dia na semana que eu não tenha assistido a um filme.

Essa paixão emergiu no início dos anos 2000, quando minha mãe comprou um aparelho de videocassete para nossa casa, e com o aparelho trouxe uma fita VHS da locadora da rua de cima, pra gente poder estrear a nova aquisição.

Desde então larguei as bonecas, larguei a cozinha de brinquedo, larguei as brincadeiras de rua, só queria saber de assistir filme no vídeo cassete!

Juntava de dois em dois reais e pedia que, quando chegasse o fim de semana, minha mãe deixasse eu alugar um novo filme. Mas, como alegria de pobre dura pouco, não demorou muito pra que o aparelho estragasse.

Aquela maldita fita cassete (do filme que não me recordo, resolvi apagar da minha memória por motivos de força maior) grudou na entrada do aparelho que não tinha santo que tirasse! Implorava minha mãe para que mandasse para o conserto, mas como a única “projeto de cinéfila” da casa era eu, não estava nas prioridades dela.

Dias se passaram, dias sem ver um filme no meu objeto preferido da casa, na verdade não via em mais lugar nenhum, durante a Sessão da Tarde eu estava na escola, e a Tela Quente era muito tarde pra que minha mãe me deixasse assistir. Meu mundo tinha caído!

Não sabia mais brincar com minhas bonecas, fazer sopa de folha da horta da vó na cozinha de brinquedo não tinha a mesma graça, as brincadeiras de rua não eram de longe divertidas como costumavam ser antes da mãe trazer aquele vídeo cassete pra casa.

Um dia, acredito que vencida pelo cansaço e pela persistência irritante de uma garota de oito anos, minha mãe levou o aparelho para o conserto. Não satisfeita, eu ainda enchia o saco da coitada todos os dias, perguntando se já era o dia de ir buscar o videocassete, e ela repetia, com a paciência que só uma mãe tem, que não, ainda não era o dia.

Chegando da escola, cansada, suada e com o “para casa” pra fazer, me dei de cara com o vídeo cassete posto no seu lugarzinho sagrado na sala, logo abaixo da TV. Todo prateado, todo lindo, da mesma forma como eu me lembrava... sei que ele ficou só alguns dias estragado e mais alguns no conserto, mas acredite, pra mim foi uma eternidade.

Como uma típica criança de oito anos, ao invés de agradecer minha mãe, já comecei a encher o saco dela pedindo pra alugar filmes. A coitada não tinha descanso.

Até que, um belo dia, ela me presenteou com a minha primeira fita cassete! A MINHA FITA CASSETE, me lembro até hoje, o filme era “Mulan”, sobre uma princesa/guerreira da Disney. Meu Deus, que sensação maravilhosa, eu era proprietária de uma fita cassete, isso significava que, sempre que eu quisesse, teria algo pra assistir.

Até hoje consigo murmurar algumas falas do filme assistindo junto, via, revia, incansavelmente, a não ser quando minha mãe me mimava com algum filme inédito quentinho e diretamente da locadora da rua de cima.

Sei que aquela compra despretensiosa da minha mãe originou o amor por cinema que carrego comigo até hoje, um amor sem limites, porque, como diria meu querido Orson Welles, o cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho.

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